Desde pequenos os filhos de Dona Sandra escutam de sua mãe: “guardem seus calçados” ou “desvirem os chinelos”. Ela não sabia explicar, só sabia sentir um profundo aperto no peito quando observava as portas dos armários abertas, chinelos virados, espelhos expostos em dias de tempestade.

Dona Sandra processava a maioria das informações por uma via peculiar. Para ela, bênçãos, maldições e encantamentos podem justificar fenômenos naturais. Afinal, ela se indagava: como explicar aquele desconforto?

Existem várias formas de pensar. O indivíduo que se descobre e, com sua ambição, constrói impérios; depois pensa existir um significado e propósito únicos para a vida, e então descobre a ciência e desvenda os fenômenos naturais, o mesmo indivíduo que restaura o contato com o grupo juntando sentimento à racionalidade e continua a evoluir.

Ampliam-se consciência e conhecimento para uma visão sistêmica e integrada de si, do outro, do mundo e de todos.

Mas para Dona Sandra isso não era fácil. Ainda que fosse professora de ciências  e soubesse racionalmente não haver problemas em comer manga com leite à noite, ela não comia por sentir tamanha aflição.

Chegando em casa, logo se pôs a desvirar seu chinelo, e brigar com o filho mais velho para não mexer em suas coisas. Indagada pelo filho sobre o porquê fazia aquilo, respondeu como se fosse o óbvio “chinelo virado a mãe morre”. Divertido, o filho insiste e pergunta a mãe sobre a vó e ganha como resposta “sei não, morreu há vinte anos”.

Conto curto inspirado na dinâmica da espiral.

Referências

BECK, Don; COWAN, Christopher. Dinâmica da Espiral. Dominar valores liderança e mudança. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

BECK, Don; et al. Spiral Dynamics in Action. Humanity´s Master Code. United Kingdom: Wiley, 2018.

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Juliana Lopes

Advogada, mestranda em Direito / Hipnóloga / Consteladora Familiar e Organizacional / Mediadora de Conflitos / Terapeuta Craniossacral