Papagaio come o milho, periquito leva a fama.
Quem tem irmão, sabe como é. Quando a traquinagem era bem realizada, difícil achar o culpado. Algumas coisas ficavam por conta do animal de estimação. A lata de lixo derrubada na correria era sempre culpa do cachorro. Desastrado, a fama dele. Coitado, pouco entendia as broncas que levava.
Quando criança, quem nunca tocou a campainha e saiu correndo? Ou quebrou janela jogando bola na rua? Apertou todos os botões do elevador? A ideia sempre partia de alguém: um irmão mais velho ou um colega de escola. Mas o castigo sobrava para aquele que ficava na “cena do crime”, aquele que não corria tão rápido ou demorava a se esconder. Às vezes, ele acompanhava os amigos, não fazia a peraltice. Porém, aplicavam-lhe a máxima, “diga com quem tu andas e eu direi quem tu és”.
Tampouco eram justos os castigos democráticos. Para correção geral da criançada, todos ficavam sem brincar. Aquele que não fizera, prendia-se aos demais. Observar traquinagem, traquinagem é? E as ideias endiabradas? Geralmente partiam de um só. Mas podem ser consideradas coletivas se adotadas pelo grupo? Ficam as dúvidas.
O tempo passa e adultecemos. O problema é que as dúvidas permanecem e, na vida adulta, a “traquinagem” aparece em alguns comportamentos do cotidiano. Agora, enlaçados em questões mais complexas, como nossas vaidades, necessidades por reconhecimento ou outros interesses.
Quando adulto, quem nunca apresentou uma boa ideia alheia em reunião de negócios? Ou ganhou um direcionado parabéns quando o trabalho foi do grupo? Usou informações confidenciais em benefício próprio? “Ah, veio a ideia, falei”. “Ouvi os parabéns, recebi”. Foi um momento fugaz e nada demais, alguns dizem.
Dependendo da situação, a linha fica turva. Aquele profissional apresentar uma ideia alheia como se fosse dele sinaliza dúvidas. A ética cada vez mais em pauta e nós tirando cada vez mais por menos. E cá ando eu a pensar, de quantas feitas como o milho ou levo a fama?
Observação: Aqui a proposta é gerar uma reflexão sobre ética e nossos comportamentos do dia a dia.