Por Franciene Aparecida da Silveira
Esse não é um artigo que apresentará soluções imediatistas e fáceis para algo que é grande, complexo e multifacetado, como o processo ensino-aprendizagem. Porém, busca oferecer uma contribuição para a comunidade escolar, diante dos desafios cotidianos, onde muitas vezes as metodologias utilizadas não alcançam o resultado esperado. Nosso objetivo é apresentar uma pedagogia capaz de perceber a criança como parte de uma estrutura inter-relacionada, capaz de educar a todos, respeitando suas necessidades proporcionando a elas uma educação realmente significativa.
A escola pública brasileira tem funcionado, historicamente, como reprodutora da ideologia de grupos dominantes. Atuando no modo tradicional, onde o professor assume uma postura superior. Entretanto, para que a educação atenda sua finalidade de formar cidadãos capazes de opinar, optar, participar, agir, pensar e refletir é necessário um novo perfil de professor/pedagogo. Que esse profissional seja capaz de compreender o aluno como parte de uma estrutura inter-relacionada, sistêmica. O pedagogo/professor deve planejar as atividades escolares considerando os alunos, os pais, os familiares e o contexto em que estão inseridos.
“Não somos seres fragmentados, mas estamos todos interligados” como afirma Cannon.
Como professores/pedagogos não podemos pensar no conhecimento de forma fragmentada ou separado do todo,devemos pensar, falar, sentir e agir de forma interdisciplinar e transdisciplinar. Para que assim as disciplinas se inter relacionem. O processo de mudança não é fácil, mas é possível, conforme Platão já nos dizia com o mito da caverna. Sair da caverna é sentir o desconforto de questionar as nossas certezas e experimentar novas posturas, metodologias e novos conhecimentos. E assim, cumprir o papel de educar para a vida.
Nessa perspectiva a educação, deve ser forte, ativa, crítica, corajosa e que proponha ao indivíduo uma reflexão sobre si, sobre o tempo e suas responsabilidades, tudo isso decorrendo de sua capacidade de optar.
Baseado no Pensamento Sistêmico, o alemão Bert Hellinger criou uma nova abordagem de psicoterapia sistêmica, denominada Constelações Familiares. O fundamento e o método da Constelação Familiar encontram-se na Práxis e na postura fenomenológica. A Fenomenologia é uma área da filosofia Humanista, cuja tarefa é investigar em geral a relação entre ato, significação e objeto. A Fenomenologia traz uma proposta do ser humano como ele se apresenta, sem interpretações. Fundamentam-se, também, no princípio do campo mórfico do biólogo Rupert Sheldrake. Para esse autor, “campo mórfico é uma expressão genérica que inclui os tipos de campos (motores, comportamentais e sociais). Esses são campos onde estamos imersos sistemicamente, e que essas informações reverberam em nós, sem que tenhamos consciência disso.
Hellinger, a partir de seus estudos, percebeu que dificuldades, conflitos, bloqueios, doenças, entre outras queixas podem, inconscientemente, ser influência de outros membros da família, inclusive de gerações passadas, mesmo que desconhecidos. Isso porque os sistemas são regidos por três grandes leis. Sendo, a primeira lei, o princípio do pertencimento, ou seja, todos têm o direito a pertencer e o lugar de cada um, inclusive dos ausentes, deve ser reconhecido. A segunda trata da hierarquia, onde os primeiros e os mais velhos devem ser respeitados pelos mais novos e por quem chegou depois. Já a terceira é a lei do equilíbrio, estabelecida pelo dar e receber. Quando essas leis são violadas ocorrem, mais cedo ou mais tarde, depressões, doenças, problemas de relacionamento, dificuldades financeiras.
Esses problemas podem ser representados através das constelações e deixam claro para o constelado, para onde ele está olhando. Assim, ele pode dar o primeiro passo para reequilibrar o seu sistema e solucionar a questão que o incomoda.
Rapidamente houve uma migração dessa técnica para a área organizacional, sendo hoje utilizadas por grandes empresas, sobretudo na Europa e EUA. No Brasil, já encontramos a constelação no judiciário,e também, no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Já no contexto da educação as Constelações familiares têm várias contribuições a oferecer.
PEDAGOGIA SISTÊMICA
Na educação, as primeiras a aplicarem os princípios das Constelações, criando um campo de pesquisa e prática denominado Pedagogia Sistêmica, foram a professora primária alemã Mariane Franke-Grickch e a professora do ensino médio, no México, Angélica Olvera. Posteriormente, a Pedagogia Sistêmica migrou para as escolas da Espanha, que hoje, como no México, são referências no treinamento de professores/pedagogos, dentro dessa abordagem. No Brasil, timidamente esses treinamentos já começam a ser ministrados, principalmente em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.
O trabalho pioneiro de Bert Hellinger, Mariane Franke-Grickch e Angélica Olvera, aplicando a metodologia da constelação familiar ao campo da educação e das escolas tem mostrado como os acontecimentos familiares afetam profundamente os indivíduos e principalmente as crianças dentro da escola, independente de quando tenha acontecido
Muitas vezes, no decorrer do processo ensino/aprendizagem, nós professores/pedagogos nos deparamos com os alunos que não têm um bom desempenho. Esse baixo desempenho pode, muitas vezes, estar ligado a processos familiares, como por exemplo, a exclusão de um membro da família. A organização educacional concentra-se na criança que não responde ao desenvolvimento esperado do seu potencial intelectual, e consequentemente, essas crianças rapidamente são rotulados pela própria família, professores/pedagogos, médicos, psicólogos e colegas.
A dificuldade de aprendizagem mais conhecida e que vem tendo grande repercussão na atualidade é a dislexia, porém, encontramos outras como disgrafia, discalculia, dislalia, disortografia, hiperatividade e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
Todos estes diagnósticos são prontamente atendidos com várias medidas de apoio e muitas vezes acompanhadas de medicações, cujos resultados são, muitas vezes, desanimadores e repletos de efeitos colaterais. A Pedagogia Sistêmica é um novo paradigma que vem ampliando a visão do que pode existir acerca das dificuldades de aprendizagem, é um novo enfoque que olha os transtornos de aprendizagem de outro lugar. A pedagogia sistêmica pode ser aplicada não apenas em situações de dificuldades de aprendizagem, mas também em situações de desintegração, de problemas comportamentais, de conflitos e quaisquer problemáticas que surjam no sistema escolar direta ou indiretamente.
É primordial que o professor/pedagogo acompanhe a evolução da turma, respeite as diferenças e a história de cada um, principalmente que seja crítico, reflexivo, tenha condições de pensar e repensar a sua prática, buscando novos caminhos para solucionar problemas, que tenha coerência entre discurso e prática. Deste modo, possibilitará ao aluno ampliar o leque do conhecimento, ser um agente transformador da realidade tendo coesão e coerência em sua interpretação de mundo, aprendendo a pensar, saber fazer e ser competente na prática social. O professor/pedagogo precisa saber que a aprendizagem ocorrerá de acordo com as relações estabelecidas a partir de um novo paradigma que valoriza o indivíduo na sua totalidade.